Bento de Jesus trabalhou décadas em obras e venceu o cansaço, o preconceito e o luto para alcançar o diploma; agora quer ajudar famílias carentes a conquistarem a casa própria
Depois de uma vida inteira carregando cimento, tijolos e enfrentando o sol das obras, Bento de Jesus da Silva, 61 anos, viu um antigo sonho se tornar realidade: ele se formou em engenharia civil no último dia 29 de agosto. Natural de Capim Grosso (BA), o ex-pedreiro emocionou colegas, professores e familiares ao subir ao palco da formatura com o coração cheio de gratidão e superação.
“Muita gente ria de mim quando eu dizia que queria ser engenheiro. Hoje, provo que não era um sonho à toa”, afirmou, com os olhos marejados, ao receber o diploma.
Um sonho que nasceu nas obras
Bento passou décadas trabalhando na construção civil. Sempre gostou de construir, mas seu verdadeiro desejo era projetar as casas que levantava com as próprias mãos. Por não ter concluído os estudos na juventude, ele precisou recomeçar do zero. Na fase adulta, ingressou no EJA (Educação de Jovens e Adultos) e, depois de anos de esforço, conquistou uma vaga na faculdade de engenharia.
Durante o dia, trabalhava duro nas obras para sustentar a família. À noite, dividia o tempo entre as aulas e os livros. “Houve noites em que chorei de tanto cansaço, mas no outro dia estava firme de novo”, lembra.
Superação após a perda
A caminhada de Bento quase foi interrompida quando perdeu a esposa, companheira de longa data. O luto o abalou profundamente, e ele chegou a cogitar abandonar o curso. Mas encontrou forças no apoio do filho, da neta e de Nalva, sua atual companheira, que o incentivou a continuar e não desistir do sonho.
Mesmo nas fases mais difíceis, um detalhe chamava atenção de colegas e professores: o sorriso constante e a esperança no olhar. Bento nunca perdeu a fé de que, um dia, seria chamado de “engenheiro”.
Engenheiro com missão social
Com o diploma em mãos, Bento agora planeja usar o conhecimento adquirido para ajudar famílias de baixa renda a realizarem o sonho da casa própria.
“Já vivi o que eles vivem. Sei o que é não ter uma casa digna. Agora quero fazer a diferença com o que aprendi”, afirmou.
A história de Bento é um exemplo de persistência, resiliência e transformação. Um lembrete de que nunca é tarde para sonhar, e realizar.
