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Presença do grupo foi suspensa após a presença dos cavalos no cortejo ser questionada por protetores dos animais, que levantaram suspeita de maus tratos. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) recomendou que os vaqueiros participassem das celebrações sem os bichos.

Grupo Encourados de Pedrão participa das comemorações do Dois de Julho em Salvador — Foto: Junior Damasceno

O grupo “Encourados de Pedrão“, um dos mais emblemáticos símbolos da luta pela Independência do Brasil na Bahia, voltou a participar das comemorações do 2 de Julho nesta quarta-feira (2), em Salvador. Há doze anos os vaqueiros, descendentes de outros que ajudaram a expulsar as tropas portuguesas do Brasil, não faziam parte da celebração.

Cerca de 300 pessoas da cidade de Pedrão, a cerca de 120 km da capital baiana, fizeram um cortejo no início da tarde. O desfile saiu da Praça Municipal até o Campo Grande.

A presença do grupo foi suspensa após a presença dos cavalos no cortejo ser questionada por protetores dos animais, que levantaram suspeita de maus tratos. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) recomendou que os vaqueiros participassem das celebrações sem os bichos.

“A nossa decisão de aceitar participar a pé reafirma que o vaqueiro encourado não é só resistência, é também reinvenção, é cultura que se atualiza e dialoga com o presente sem abandonar suas raízes. É um povo que honra a memória dos que vieram antes e prepara o caminho para os que virão”, disse a Prefeitura Municipal de Pedrão, em nota.

Encourados de Pedrão desfilam em Salvador, nesta quarta-feira (2). — Foto: Marcel Machado

Em ritmo de aboio, Ademário Aboiador, um dos integrantes do grupo, pediu que os governantes autorizem a retomada dos cavalos no cortejo.

“Eu vou pedir ‘pros’ governantes verem a minha situação
Depois de 12 anos, ‘tou’ aqui com os pés no chão
pedindo para o senhor não proibir os ‘cavalo’ não”, cantou Ademário, recebendo aplausos dos demais representantes dos encourados.

 O aboio é tipo específico de canto, geralmente sem palavras, usado pelos vaqueiros para guiar o gado, com uma melodia lenta e ritmada. Trata-se de uma tradição no sertão nordestino.

Anderson Maia, presidente do grupo Encourados de Pedrão, disse que está em diálogo com o MP-BA para discutir o retorno dos cavalos ao cortejo.

“Essa forma que a gente está aqui é para mostrar que estamos vivos e lutando para manter a cultura do vaqueiro. Fizemos curso de doma ao longo desse tempo e está todo mundo capacitado para manter o bem-estar do animal”, afirmou.

Os Encourados de Pedrão eram um grupo composto por 40 baianos que se juntaram ao movimento de lutas pela Independência da Bahia. Os vaqueiros eram liderados pelo frei católico José Brayner.

Os documentos históricos apontam que os voluntários saíram de Pedrão com destino a Cachoeira, onde ocorreram as principais batalhas, e adotaram um vestuário semelhante ao que eles usam hoje, com as vestes de couro tradicionalmente usadas no trabalho no campo, incluindo um chapéu com uma chapa de latão oval e, ao centro, letra “P”, com uma coroa acima da letra.

A túnica era o gibão. Eles usavam clavinas, espingardas ou bacamartes, espadas ou facas, andavam a cavalo ou a pé, calçados ou descalços, segundo as circunstâncias exigiam

Os vaqueiros eram mais habilidosos da região, homens que dominavam o trânsito em mata fechada por longos períodos de cavalgada pela caatinga. Este grupo se aliou a outros que organizaram a retomada de Salvador, cercando a capital por terra, enquanto outros atuavam na Baía de Todos-os-Santos, impedindo a entrada de armas e alimentos que poderiam suprir as tropas portuguesas.

Desde 1993, a população de Pedrão passou a homenagear os guerreiros com vestimentas e desfiles a cavalo, na capital baiana e no próprio município onde o movimento surgiu.

Pintura representa Frei Brayner e os Encourados de Pedrão — Foto: Redes sociais

Homenagens em Pedrão

Após o ato em Salvador, o grupo também desfilará no dia 4 de julho, em Pedrão. A programação terá início às 10h, no Auditório da Secretaria de Educação do município, e inclui debates, exposições e apresentações culturais.

Através do projeto “Bahia: Memórias de Lutas e Liberdade”, que celebra os 202 anos da Independência do Brasil na Bahia e já percorreu 19 municípios baianos entre maio e junho, o grupo também é homenageado pela Fundação Pedro Calmon.

“Será uma celebração da história, cultura e resistência do povo baiano, com debates, exposições e manifestações artísticas que remontam às lutas pela independência. Esta edição levou para as escolas, atividades que reforçam a importância dessas lutas, é importante que possamos disseminar essa história para preservar a memória, principalmente para o público estudantil. Encerramos em Pedrão com chave de ouro e celebrando a coragem dos vaqueiros”, explica Sandro Magalhães, dirigente da entidade.

Confira a programação completa em Pedrão:

Abertura

  • Neto do Berrante (Encourados de Pedrão)

Mesa institucional

  • Marcílio Menezes (Prefeito Municipal de Pedrão)
  • Sueli Soares (Secretaria Municipal de Educação de Pedrão)
  • Anderson Maia (Presidente dos Encourados de Pedrão)
  • Leina Marques (Fundadora da Associação dos Vaqueiros de Biritinga)
  • Marcel Machado (Chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Pedrão)
  • Walter Silva (Diretor do Centro de Memória da Bahia/Fundação Pedro Calmon – SecultBA)

Apresentação cultural

  • Ademário Aboiador (Encourados de Pedrão)

Mesa de debate – Tema: “O processo de Independência do Brasil na Bahia”

  • Jaime Nascimento (Historiador – Secult-BA)
  • Miguel Teles (Mestre em História)

Mesa de debate- Tema: “De Vaqueiros a Encourados: O Arraial do Pedrão e os ideais libertários de 1823”

  • Zezinho de Pedrão (Diretor do Memorial dos Encourados de Pedrão)

Encerramento

  • Neto do Berrante (Encourados de Pedrão)

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